Análise ergonômica do trabalho (AET) e Análise Ergonômica Preliminar (AEP)

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Objetivo

A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) e a Análise Ergonômica Preliminar (AEP) têm como objetivo adaptar o trabalho ao ser humano, prevenindo doenças ocupacionais, aumentando a produtividade e reduzindo custos. Ambas são ferramentas essenciais dentro do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) previsto na legislação brasileira.

Surgimento

A ergonomia surgiu oficialmente em 1949, na Inglaterra, quando o termo foi usado pela primeira vez para designar o estudo da relação entre o ser humano e seu trabalho. No entanto, práticas ergonômicas existem desde a Antiguidade, quando já se buscava adaptar ferramentas e postos de trabalho para reduzir o esforço físico.

A importância dessa descoberta está no fato de que a ergonomia trouxe uma visão científica para o bem-estar e a eficiência humana, ajudando a prevenir lesões, reduzir fadiga e aumentar a produtividade.

Nos dias atuais, sua relevância é ainda maior: com a expansão do trabalho remoto, uso de computadores e máquinas industriais, a ergonomia garante mais saúde, segurança e qualidade de vida, além de reduzir custos com afastamentos e problemas de saúde ocupacional.

Embora o termo ergonomia só tenha sido criado em 1949, os estudos sobre a relação entre o ser humano e suas atividades já vinham de muito antes:

  • Antiguidade: Hipócrates (cerca de 400 a.C.) descreveu posturas adequadas para o trabalho de cirurgiões, relacionando posição do corpo com eficiência e menor esforço.
  • Idade Média: artesãos e construtores adaptavam ferramentas e métodos de acordo com as capacidades físicas humanas.
  • Revolução Industrial (séculos XVIII e XIX): com o aumento do trabalho em fábricas, começaram a surgir estudos mais sistemáticos para reduzir acidentes e fadiga dos operários.
  • Início do século XX: o engenheiro Frederick Taylor e os Gilbreth (Frank e Lillian) introduziram a “organização científica do trabalho”, analisando movimentos e tempo para melhorar desempenho humano.

Assim, pode-se dizer que a ergonomia começou a ser estudada de forma mais científica no início do século XX, mas suas raízes estão espalhadas pela história da humanidade sempre que alguém pensou em ajustar o trabalho ao corpo humano.

Diferença entre AET e AEP

  • AEP (Análise Ergonômica Preliminar): Avaliação inicial, preventiva, feita antes da implantação de um novo posto, processo ou layout. Identifica riscos ergonômicos potenciais.
  • AET (Análise Ergonômica do Trabalho): Avaliação completa e aprofundada, obrigatória pela NR-17 quando há exposição a riscos ergonômicos ou por exigência de fiscalização. Inclui análise física, cognitiva e organizacional.

Quando se deve fazer uma AEP ou AET

  • AEP: em projetos, novas instalações, mudanças de layout, introdução de novas tecnologias.
  • AET: quando houver indícios de adoecimento ocupacional, reclamações de desconforto, afastamentos, exigência do MTE ou revisão do PGR.

O que é a AET (Análise Ergonômica do Trabalho) ou AEP

A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) é uma exigência prevista na Norma Regulamentadora nº 17 (NR-17), aprovada pela Portaria nº 3.214/1978 do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

Seu objetivo é adaptar as condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, promovendo saúde, segurança e eficiência.

Prazo de validade da AET

A legislação não define um prazo de validade fixo para a AET.
Segundo a NR-17, item 17.1.2, a empresa deve realizar a análise “sempre que necessário”, ou seja:

  • Quando há mudanças significativas no processo de trabalho, layout, máquinas, equipamentos ou jornada;
  • Quando identificados adoecimentos ocupacionais relacionados a riscos ergonômicos;
  • Quando solicitado pela fiscalização ou por necessidade técnica.

Portanto, a AET não tem prazo de validade predeterminado — sua atualização é condicionada às mudanças e à realidade da empresa.

Periodicidade recomendada na prática

Embora não exista prazo legal fixo, boas práticas de gestão de SST e orientações de auditores fiscais recomendam revisar a AET:

  • a cada 2 a 3 anos, de forma preventiva;
  • ou imediatamente, sempre que houver mudanças no processo, introdução de novas tecnologias ou ocorrência de afastamentos por LER/DORT.

Base legal

  • NR-17 – Ergonomia (Portaria nº 3.214/1978, atualizada pela Portaria SEPRT nº 6.730/2020).
  • Art. 157 da CLT: cabe ao empregador cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho.

Quando surgiu a Ergonomia no mundo e no Brasil

  • No mundo: O termo “ergonomia” foi criado pelo polonês Wojciech Jastrzębowski em 1857. A disciplina se consolidou durante as guerras mundiais, quando cientistas estudaram a adaptação homem-máquina.
  • No Brasil: A ergonomia ganhou relevância com a Portaria 3.214/78 que criou a NR-17. A primeira versão da norma entrou em vigor em 1978 e foi revisada em 1990 com apoio da Fundacentro.

Países referência em ergonomia

Estados Unidos, Alemanha, Japão, Suécia e França são líderes em pesquisa e boas práticas ergonômicas. No Brasil, a Fundacentro é referência técnica.

Quem implantou a ergonomia no Brasil e porquê

A Fundacentro (Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho) foi responsável por difundir e implantar os primeiros estudos ergonômicos no país, motivada pelo aumento de LER/DORT e pela necessidade de adaptar normas internacionais à realidade brasileira.

Causas que levaram à implantação de programas ergonômicos

  • Crescimento de doenças osteomusculares.
  • Afastamentos previdenciários.
  • Passivos trabalhistas crescentes.
  • Necessidade de aumentar produtividade sem comprometer a saúde.

Obrigatoriedade da AET/AEP

Empresas são obrigadas a realizar AET quando:

  • Há exposição a riscos ergonômicos.
  • Ocorrência de adoecimento ocupacional.
  • Implantação de novos processos.
  • Exigência de auditorias ou fiscalização.

Primeira empresa a implantar programas ergonômicos

  • No mundo: a Boeing e a General Motors, nos EUA, são citadas como pioneiras na adoção sistemática de ergonomia industrial (anos 1950/60).
  • No Brasil: empresas do setor automobilístico (Volkswagen, Ford) foram as primeiras a aplicar programas ergonômicos na década de 1980, com apoio da Fundacentro.

Referências em ergonomia no mundo

  • Alain Wisner (França)
  • Christophe Dejours (França)
  • Eric Brangier (França)
  • Karl Kroemer (EUA)

Livros e trabalhos de referência:

  • “Introduction to Ergonomics” – Bridger
  • “Ergonomics” – Kroemer
  • “Ergonomia” – Alain Wisner

Referências no Brasil

  • Prof. Dr. Itiro Iida – autor de “Ergonomia: Projeto e Produção”
  • Profa. Dra. Leda Leal Ferreira
  • Profa. Dra. Tânia Maria de Araújo

Obras recomendadas:

  • “Ergonomia Aplicada ao Trabalho” – Iida
  • “NR-17 Comentada” – Fundacentro

Mitos da ergonomia

  • É só para empresas (mito).
  • É apenas cadeira e mesa (mito).
  • Não aumenta produtividade (mito).
  • É custo e não investimento (mito).

Na prática, aplica-se também no dia a dia: home office, lazer, transporte, atividades domésticas.

Por que as pessoas não levam a sério a ergonomia

Falta de informação, percepção de custo imediato e ausência de resultados visíveis no curto prazo.

Doenças relacionadas à ergonomia

LER/DORT, hérnia de disco, tendinites, síndrome do túnel do carpo, lombalgias, problemas circulatórios.

Essas doenças têm amparo legal. São consideradas ocupacionais quando existe nexo causal comprovado por:

  • CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho).
  • AET/AEP documentadas.
  • Laudos médicos.

Normas nacionais

  • NR-17 (Portaria 3.214/78) – parâmetros ergonômicos.
  • NBR 9050 – acessibilidade.
    Criadas para prevenir doenças e melhorar produtividade. Entraram em vigor em 1978, revisadas em 1990.

Normas internacionais de referência

  • ISO 11228 – manuseio manual de cargas.
  • ISO 6385 – princípios ergonômicos no trabalho.
  • NIOSH Lifting Equation – cálculo de limite de peso.

Cálculo de peso para levantamento

Exemplo simplificado (base NIOSH):

Limite Recomendado = 23 kg × fatores de correção (distância, altura, frequência, torção).
Se fatores forem desfavoráveis, o peso permitido pode cair para menos de 10 kg.

Legislação nacional sobre transporte de carga

  • Homens: até 60 kg de forma eventual (NR-17).
  • Mulheres: limite reduzido (cerca de 20 kg).
    O excesso pode gerar lesões lombares, hérnias e afastamentos.

Ergonomia em escritórios

Empregador deve garantir:

  • Mesas e cadeiras ajustáveis.
  • Apoio para pés.
  • Iluminação adequada.
  • Pausas regulares.

Ergonomia no home office

Precisa de:

  • Cadeira e mesa adequadas.
  • Monitor na altura dos olhos.
  • Apoio para pés.
  • Pausas programadas.

Riscos comuns: má postura, sedentarismo, iluminação inadequada.
Controle: ajustes, ginástica laboral, pausas.

Riscos nos setores operacionais

Movimentos repetitivos, peso excessivo, vibração, postura forçada.
Controle: mecanização, rotação de tarefas, redesign de postos.

Passos para implantação de um programa ergonômico

  1. Diagnóstico dos riscos.
  2. Classificação dos riscos (físico, cognitivo, organizacional).
  3. AEP (novo posto) ou AET (posto existente).
  4. Plano de ação com prazos e responsáveis.
  5. Treinamento e conscientização.
  6. Monitoramento contínuo.

Exemplo: Indústria automotiva que introduziu exoesqueletos e reduziu afastamentos por DORT em 30%.

Por que empresas negligenciam ergonomia

Percepção de custo, desconhecimento do retorno sobre investimento, falta de cobrança de clientes ou fiscalização.

Setores econômicos mais afetados

Indústrias automotivas, call centers, transporte, saúde, logística.
O que deve ser feito: programas preventivos, investimento em tecnologia e mobiliário.

5 Erros comuns na avaliação ergonômica

  1. Avaliar só aspectos físicos.
  2. Ignorar pausas.
  3. Não ouvir trabalhadores.
  4. Usar checklists genéricos.
  5. Não revisar após mudanças.

5 Dicas de avaliação correta

  1. Incluir aspectos cognitivos e psicossociais.
  2. Medir cargas reais.
  3. Considerar diversidade de trabalhadores.
  4. Registrar fotos e vídeos.
  5. Atualizar laudos periodicamente.

Benefícios de um programa ergonômico eficiente

5 Para a empresa:

  • Redução de afastamentos.
  • Aumento da produtividade.
  • Menor passivo trabalhista.
  • Melhoria do clima organizacional.
  • Imagem corporativa positiva.

5 Para o trabalhador:

  • Saúde preservada.
  • Menos fadiga.
  • Mais conforto.
  • Menor risco de doenças ocupacionais.
  • Maior satisfação no trabalho.

Treinamentos e acessórios indispensáveis

  • Técnicas corretas de levantamento de carga.
  • Pausas ativas/gym laboral.
  • Ajuste de mobiliário.
  • Apoios de pés, suportes de monitor, cadeiras ergonômicas.

Doenças que mais afastam

LER/DORT, lombalgias, síndrome do túnel do carpo.

Solução: diagnóstico precoce, ajustes ergonômicos, rodízio de tarefas, pausas.

Profissionais legalmente habilitados para AET

  • Engenheiros de Segurança do Trabalho.
  • Médicos do Trabalho.
  • Fisioterapeutas do Trabalho com especialização em ergonomia.
  • Consultores habilitados com registro e capacitação específica.

Estrutura de um programa AET/AEP

  1. Planejamento.
  2. Levantamento de dados.
  3. Observação do trabalho real.
  4. Entrevista com trabalhadores.
  5. Análise postural e de cargas.
  6. Recomendações.
  7. Plano de ação.
  8. Monitoramento.

Tecnologias atuais para análises precisas

  • Softwares de análise postural (RULA, REBA, OWAS).
  • Sensores de movimento e wearables.
  • Realidade aumentada para simulação de postos.
  • Plataformas digitais integradas ao PGR.

Conclusão

A ergonomia é mais do que uma exigência legal: é uma estratégia de gestão para promover saúde, produtividade e competitividade. Um programa ergonômico bem implantado reduz afastamentos, melhora o clima organizacional e aumenta o desempenho dos trabalhadores. Investir em ergonomia é investir no futuro do trabalho seguro e saudável.

Texto: Antonio Santos

Imagem:  Inteligência artificial – IA